Manuseando alguns papéis esses dias
me deparei com um texto já lido há algum tempo, porém de frase muito chamativa:
Possuímos inata capacidade de amar. A pergunta que me veio imediatamente na
cabeça foi: com que tipo de amor amamos? Como expressamos o nosso amor? Da
maneira mais pura do amar? De fato, amor é uma palavra bastante desgastada em
nossos dias. Partilho com você leitor, um texto na íntegra de São Basílio
Magno, Bispo do século IV que tece algumas reflexões sobre o tema. Nos
deliciemos com a leitura!
O amor de Deus não é matéria de ensino nem de
prescrições. Não aprendemos de outrem a alegrar-nos com a luz, ou a desejar a
vida, ou a amar os pais ou educadores. Assim – ou melhor, com muito mais razão
–, não se encontra o amor de Deus na disciplina exterior. Mas, quando é criado,
o ser vivo, isto é, o homem, a força da razão foi, como semente, inserida nele,
uma força que contém em si a capacidade e a inclinação de amar. Logo que entra
na escola dos divinos preceitos, o homem toma conhecimento desta força,
apresando-se em cultivá-la com ardor, nutri-la com sabedoria e levá-la à
perfeição, com o auxílio de Deus.
Sendo assim, queremos provar vosso empenho em
atingir este objetivo. Pela graça de Deus e contando com as vossas preces, nós
nos esforçaremos, segundo a capacidade dada pelo Espírito Santo, por suscitar a
centelha do amor divino escondida em vós.
Antes de mais nada, nós dele recebemos
antecipadamente a força e a capacidade de pôr em prática todos os mandamentos
que Deus nos deu. Por isso não nos aflijamos como se nos fosse exigido algo de
incomum, nem nos tornemos vaidosos pensando que damos mais do que havíamos
recebido. Se usarmos bem destas forças, levaremos uma vida virtuosa; no
entanto, mal empregadas, cairemos no pecado.
Ora, o pecado se define como o mau uso, o uso
contrário à vontade de Deus daquilo que ele nos deu para o bem. Pelo contrário,
a virtude, como Deus a quer, é o desenvolvimento destas faculdades que brotam
da consciência reta, segundo o preceito do Senhor.
O mesmo diremos da caridade. Ao recebermos o
mandamento de amar a Deus, já possuímos capacidade de amar, plantada em nós
desde a primeira criação. Não há necessidade de provas externas: cada qual por
si e em si mesmo pode descobri-la. De fato, nós desejamos, naturalmente, as
coisas boas e belas, embora, à primeira vista, algumas pareçam boas e belas a
uns e não a outros. Amamos também, sem ser necessário que nos ensinem nossos
parentes e amigos e temos espontaneamente grande amizade por nossos
benfeitores.
O que haverá, pergunto então, de mais admirável do que a beleza divina?
Que coisa pode haver mais suave e deliciosa do que a meditação da magnificência
de Deus? Que desejo será mais veemente e violento do que aquele inserido por
Deus na alma liberta de toda impureza e que lhe faz dizer do fundo do coração:
Estou ferida de amor? É na verdade totalmente indescritível o fulgor da beleza
de Deus.
Organização:
Frei Walter Benício, OFMCap.