Maria José Galdino da Silva nasceu em Catolé do Rocha, em
1957. É filha do agricultor Praxedes
Galdino e da parteira Maria do Carmo, uma numerosa família que contava 23
irmãos. Em meados dos anos 60, a família
deixou a Paraíba e se radicalizou em Caruaru. Maria contava cerca de 8 anos de
idade.
Seus estudos resumem-se a algumas orientações básicas de
alfabetização, que pode absorver de professores leigos na zona rural de Barra
de Taquara de Cima, onde reside até hoje. A escola ficou para trás, pois aos 12
anos ela fugiu de casa e, aos 13 anos, já era mãe, fato um tanto quanto comum
para época.
Ainda jovem, a exemplo da mãe, Maria inclinou-se às práticas
leigas de cuidado com a saúde das pessoas de comunidades rurais ao perceber as
necessidades tão urgentes numa época em que os serviços médicos eram
praticamente restritos aos mais abastados. O primeiro parto realizou com a
ajuda do pai, que lhe ensinou o ponto correto de cortar o cordão umbilical e
demais procedimentos.
Aos poucos, virou referência numa região que abrange as
Taquaras de Baixo e de Cima, Alto do Moura, Serrote dos Bois, Mombuca, Peladas,
Murici, Brejo de Altinho, bem como áreas urbanas da periferia da cidade. Chamada
a qualquer hora da noite ou do dia, se locomovendo a pé ou a cavalo,
enfrentando sol ou chuva, ela saía léguas e léguas de distância para prestar o
socorro.
O salário era um cozinhado de feijão verde, uma galinha de
capoeira, um jerimum, um afilhado e muitas bênçãos de Deus. E isso lhe bastava.
Assim, realizou centenas e centenas de parto, cuidou de feridos, desenganados e
excluídos e coleciona uma legião de compadres e comadres. Em meados de 90, o
médico José Bezerra (Bodocó) lhe ajudou e ela montou um pequeno ambulatório em
sua comunidade.
Até 2003, Mãe Zezé, como ficou carinhosamente conhecida, era
uma ilustre desconhecida até dos caruaruenses. Neste ano, a reportagem da
Revista Capricho descobriu o trabalho desta heroína anônima e fez uma matéria
sobre ela e suas 3 filhas adotivas, que também já realizavam partos e outros procedimentos.
Em seguida foi alvo de reportagem do programa de Hebe Camargo, no SBT, para homenagear o Dia da Parteira e, logo depois, uma equipe do Domingão do Faustão, da TV Globo, a convidou para ir ao Rio de Janeiro. Lá, Mãe Zezé foi vista pelo Brasil inteiro. Ganhou de presente uma ambulância que presta serviço gratuito às comunidades da região.
Realizando em média 45 partos por ano, Mãe Zezé segue sua
missão. Do alto de seus 51 anos, ela ainda demonstra vitalidade e raro exemplo
de vida solidária. Vive apenas de seu salário de agente comunitária de saúde.
Ainda ajuda crianças e necessitados. É evangélica e mulher de muita fé.
Considera-se realizada e vitoriosa. Seu único e modesto sonho é deixar um posto
de saúde em sua comunidade por achar que ninguém dará continuidade a sua obra.
Salve Mãe Zezé!
Texto por Tatiana Indiana